CARTA BRANCA / OUT-DEZ
É como dançar por cima de manteiga
É como dançar por cima de manteiga é uma performance que remete para uma narrativa documental autobiográfica, no ambiente familiar da cozinha, no ato da preparação da comida e da sua partilha- expressão última de ritual, veículo de memórias, lugar de multiculturalidade, sintoma de desigualdade, ato de independência. Um convite à coexistência, empatia e comunhão como resposta à urgência de intimidade e de diálogo plural no actual contexto de rotulação e polarização política.
Um exercício sobre a destruição e a criação, o desejo e a morte, a partir da Orgia de Pasolini.
Ruído
Não vemos tudo o que existe. Encaixámos o tempo em horas, minutos, anos; as distâncias em centímetros, milhas, anos-luz. Inventámos deuses para não termos perguntas sem respostas. Estudámos, corrigimos, medimos: tentámos. Nem tudo o que existe pode ser observado, ou pode ser percebido pelas formas às quais nos habituámos. Nunca ninguém viu um buraco negro. O cosmos parece silencioso, porque não sabemos ouvi-lo. Não podemos entender sensorialmente a dimensão do Universo. Esforçamo-nos por imaginar que tamanho toma tudo o que existe, a velocidade inultrapassável da luz, coisas que continuam a existir enquanto tendem para o infinito. Algures – muito para além do azul a que chamamos céu – nascem e morrem estrelas, formam-se buracos negros que tentamos descrever, há pequenos defeitos quase tão antigos como o Big Bang que provocam ainda hoje ondas no espaço-tempo que se propagam, sem darmos por elas. As medidas do quotidiano não servem para a grandeza do Universo.
Como é que conseguimos encontrar na nossa linguagem uma estrutura que nos permita pensar sobre estas coisas? Que questões colocam as investigações da astrofísica à nossa forma antropocêntrica de conhecer o mundo? Propomo-nos não só compreender melhor o universo através da astrofísica, mas também questionar o sítio a partir do qual a astrofísica se desenvolve. Enquanto observamos o universo, em que lugar nos colocamos? O que é a objectividade? A que imagens recorre um cientista para poder falar sobre coisas que parecem não caber na nossa linguagem comum? Que relação tem o tempo que medimos e gastamos enquanto vivemos com o tempo que estrutura o Universo?
Como distinguimos no ruído o que realmente queremos ouvir?
Ruído é um projeto da Noitarder em colaboração com o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, no âmbito do projeto de investigação científica e desenvolvimento tecnológico à procura de cordas cósmicas e outros defeitos topológicos com ondas, que tem como investigadora principal a doutora Lara Sousa.