O nascimento de um buraco negro soa ao piar de um pássaro

A imagem de um gigante buraco, um abismo vertiginoso onde desaparecem ideias, projectos, visões; um espaço de vácuo, sem ar; um espaço entre, interregno do devir político e histórico; uma câmara escura onde permanece o paradoxo entre negação e transformação. Mas também um buraco negro que não só engole matéria numa escuridão desconhecida, mas continua a cuspir para o espaço partículas de energia.

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BURACO 2.0

é o tema da primeira programação anual da estrutura artística UMA, a decorrer ao longo de 2021. Propomos um olhar retrospectivo sobre 2020, ficcionando-o como o ano que não existiu. 

2020 foi o ano da mudança sísmica e, simultaneamente, da sua negação. Se, por um lado, o fim do mundo nos pareceu em 2020 bem próximo, por outro, surgiram movimentos socio-políticos que tornaram verosímeis mudanças paradigmáticas que nos permitem projectar futuros alternativos.

2020 foi também o ano em que a machina-mundi desacelerou, ao mesmo tempo que se confirmou a instabilidade política, económica e ambiental que se vem anunciando há mais de uma década. Foi o ano em que confrontámos, uma vez mais, a frágil fisiologia dos nossos corpos, ao mesmo tempo que nos adaptámos física e cognitivamente à inevitável aceleração dos processos de remediação digital da realidade.

Inspiradas por recentes teorias da astrofísica que entendem o buraco negro como lugar de possibilidade e gerador de novos universos, em 2021, a UMA e os seus artistas associados querem mergulhar neste BURACO 2.0, neste ano que, não existindo, foi gerador de uma constelação de epifenómenos, narrativas, movimentos e discursos.

Através de uma programação transdisciplinar e em colaboração com artistas e pensadores de diversos quadrantes, este problema dramatúrgico será mastigado, esmiuçado, aprofundado sob diversos pontos de vista, num digging for meaning desarrumado e intensivo, num staying with/in the hole, parafraseando Donna Haraway. 

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