4 ARTISTES / SACERDOTES >>>> THE CURSED ASSEMBLY + JONATHAN ULIEL SALDANHA + DIEGO BRAGÀ + BEATRIZ GARRUCHO (não obrigatóriamente por esta ordem)
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PASSOS MANUEL / MUSEU DA CIDADE / ZERO BOX LODGE / PÉROLA NEGRA
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MISSA DO GALO / MISSA DE SEXTA FEIRA SANTA / MISSA LEISURE SESSION / MISSA DE SAUDAÇÃO AO VERÃO

4 MISSAS CAMPAIS são quatro performances multidisciplinares (Missas), sob a forma de celebração coletiva, abertas à população da cidade, em diálogo com os calendários litúrgicos cristão e pagão que regem, de forma mais ou menos evidente, a nossa vivência comum.

Cada missa é concebida a partir de um momento-chave deste calendário e será ministrada, na efeméride designada, por um/a/e artista-sacerdote, que convidará o público a comungar da sua liturgia. 

Procuramos uma atualização de convenções e modos ritualísticos milenares para o contexto da nossa cultura contemporânea e de práticas urbanas, como pretexto para a formação de comunidades em torno de noções de libertação, catarse, expurgação e prazer. 

 

Criação: PLATAFORMA UMA
Direção técnica: Luís Silva
Apoio à produção: Menosmuitomais 
Comunicação e imprensa: Rita Neves
Apoios: Passos Manuel, Museu da Cidade do Porto, Zero Box Lodge, Pérola Negra
4 MISSAS CAMPAIS é um projeto com apoio do programa Criatório 2023 da Ágora – Cultura e Desporto do Porto, E.M., S.A. 

 

No início foi um sonho. Um sonho sem imagem. Tela preta, som branco. 

Jonas começou a sonhar à 1:33 da manhã;

Agnes às 3:40 e

Marta, às 4:21.

Em cada casa, o rádio parou na frequência AM, 1600kHz. Uma vibração, vinda de fonte incógnita, propagou-se por várias Ondas, que invadiram as três casas. Devido a um desconhecido fenómeno paranormal (ou mesmo quântico), as três mulheres sonharam em simultâneo, em horas diferentes.


As Ondas perguntaram a Jonas, a Agnes e a Marta: “Qual é o teu nome?”

“Eu sou legião, porque somos muitos,” respondeu cada uma em sua casa, num breve momento de sonambulismo coordenado.

Satisfeitas com a resposta, as Ondas continuaram: “Nada foi criado para ser eterno, imóvel ou indestrutível. Tudo é temporário, tudo é fluido, tudo é infiltrável. Assim foi tudo feito.”


Jonas, que gostava pouco de charadas e circunlóquios, e detestava, acima de tudo, a suspeita de que estavam a fazer pouco de si, confrontou as Ondas: “Vocês falam para que ninguém vos

entenda.”

Marta perguntou às Ondas: “Estão a dizer-nos para infiltrar algo?”

“Sim”, responderam as Ondas.

“E quem nos dá essa ordem? Vocês?”

As Ondas responderam: “Nós não damos ordens, nós somos contra as ordens. E não somos intermediárias de ninguém. Nós só sugerimos, colocamos outras perspectivas em cima da

mesa.”

Jonas insistiu: “E o que devemos nós infiltrar?”

“Reuniões, celebrações, manifestações, o luto carpido por multidões.”

“Mas o real é feito sobretudo disso," constatou Marta.

“Então infiltrem essa liturgia do real,” disseram as Ondas.

“Porquê?”, perguntou Jonas.

“Porque só damos pela existência das coisas, das pessoas e dos hábitos quando os agitamos, quando os destruímos. Tal como só damos pela existência de uma árvore quando um raio a

atinge durante uma tempestade.”


Agnes, que estava confusa – por isso, em silêncio – durante todo este diálogo, começou a balbuciar repetidamente: “Parábola-Parabólica-Parabolistas. Parábola-Parabólica-Parabolistas.” 

Marta perguntou às Ondas: “O que é que ela está a dizer?”

“É uma regra de três. Um lengalenga. Um chamamento. Agnes começou a recrutar o resto da vossa legião. Vão e recrutem com ela”. 

“Como saberemos quem chamar? E quando estará a legião completa?”, perguntou Jonas.

As Ondas responderam: “É pura geometria. Procurem uma quadratura para o vosso triângulo e formareis aquilo que qualquer legião precisa: uma casa, com paredes e um telhado, vista de

frente, como no desenho de uma criança”.

“E depois?”, inquiriu Marta.

 

 

 

 

 

 

 

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