O ano de 2020 acabou com o zeitgeist do fim do mundo. Em 2021 o zeitgeist mantém-se - todas as revisões de fim de ano e previsões para o ano que vem parecem anunciar uma catástrofe colectiva, apoiada na crise climática, no crescimento da extrema-direita e, mais recentemente, na ameaça virológica. O futuro próximo, na escala de poucas décadas, torna-se imprevisível, senão mesmo inimaginável fora dos quadros da ficção científica ou das escatologias messiânicas.
A finitude empírica da espécie é algo que a maioria das pessoas aprendeu a admitir, pelo menos desde Darwin. Sabemos que “o mundo começou sem o homem e terminará sem ele", na frase de Lévi-Strauss. Mas quando as escalas da finitude colectiva e da finitude individual entram numa trajectória de convergência, essa verdade cognitiva torna-se subitamente uma verdade afectiva difícil de administrar. Como referem Déborah Danowski e Viveiros de Castro no seu livro Há mundo por vir - ensaio sobre os medos e os fins (2017), “uma coisa é saber teoricamente que vamos morrer, outra é receber do nosso médico a notícia de que estamos com uma doença gravíssima, com provas radiológicas à mão”. Uma agravante dessa dificuldade de pensar a catástrofe é o carácter hiperobjectivo das mudanças. “Nada na escala certa”, como observa Latour (2013), tentando caracterizar os diversos aspectos do sentimento de desconexão que nos paralisa face aos eventos actuais. Foi-nos revelado que as coisas estão a mudar, a mudar rapidamente, não para o bem da vida tal como a conhecemos. E não temos a menor ideia do que fazer a esse respeito.
O Antropoceno é o apocalipse em ambos os sentidos, etimológico e escatológico.
MIRAGEM - discursos sobre o fim, é uma série de três instalações que traduzem a problematização do tema FIM. Influenciada pelas ideias de pensadores como Chakrabarty, Anders, Latour, Stengers, Haraway, Ponivelli e Viveiros de Castro, que evidenciam a necessidade urgente de uma reinvenção metafísica das noções de humanidade e de mundo suscitada pela entrada em cena do Antropoceno, idealizei três instalações que desvelam noções como a de desaceleração, contemplação, luto e antropomorfismo, pondo em evidência as novas mitologias de subsistência do futuro.
Uma criação de Joana Magalhães
Instalação 1
HAIKU /
Estreia : Abr 2019, Mala Voadora Porto
HAIKU extended (performance) /
Estreia: Dez 2020, Rivoli-TMP
Instalação 2
FURAR A NEVE /
Estreia: 19 Fev - 6 Mar 2022, Zero Box Lodge (Porto)
Exposição integral (3 instalações)
Outubro - Dezembro 2022, Culturgest (Porto)
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